A subutilizada opção para perda de peso: a cirurgia bariátrica

Segundo especialistas ela pode resultar numa perda de peso de longo prazo e melhorar significativamente a saúde física e emocional e até a longevidade

Os crescentes índices de obesidade entre os americanos são uma evidência clara de que mesmo as melhores intenções e mais fortes motivações com frequência não bastam para ajudar as pessoas obesas a emagrecerem de modo significativo e manterem o peso. Mas para os que conseguem superar o temor de uma cirurgia e talvez a batalha com planos de saúde recalcitrantes, existe uma outra opção muito eficaz que é subutilizada. Trata-se da cirurgia bariátrica, hoje uma alternativa mais simples, mais segura e mais eficaz do que quando começou a ser adotada na década de 1990.

“Somente 0,5% das pessoas com os requisitos para se submeterem a uma cirurgia bariátrica recorrem a essa intervenção”, disse a Dra. Anne P. Ehlers, da Universidade de Michigan. Essa cirurgia em geral é considerada uma opção de tratamento para um indivíduo com índice de massa corporal (IMC) de 40 ou mais que não consegue perder peso com dietas e exercícios.

E é recomendada também para pessoas menos gordas, com um IMC de 30 a 35 com problemas de saúde por causa da obesidade. A subutilização da cirurgia bariátrica tem sido atribuída à relutância da comunidade médica e de pacientes em reconhecer que se trata de uma intervenção segura, eficaz e com resultados duráveis, afirmaram especialistas da universidade de Michigan em artigo na revista JAMA (Journal of the American Medical Association) em 2018.

Segundo eles, os pacientes “relutam porque podem ser criticados por outras pessoas que acham que eles optaram pelo caminho mais fácil para resolver o problema e não tiveram força de vontade para seguir uma dieta ou praticar exercícios. “A força de vontade não basta para milhões de pessoas que lutam com a obesidade, mas “muitos também sentem ser um fracasso se optarem pela cirurgia”, disse a Dra. Ehlers em uma entrevista.

O estigma, real ou imaginário, impede muitos indivíduos de se submeterem a um tratamento que resulta numa perda de peso de longo prazo e melhora significativamente sua saúde física e emocional e até sua longevidade. Doenças que podem ser aliviadas ou revertidas pela cirurgia são, entre outras, a diabete Tipo 2, doenças cardíacas, pressão alta, colesterol alto, refluxo gastrointestinal, apneia do sono, câncer de mama, câncer colorretal, incontinência urinária, infertilidade e fraturas. Os índices de morte podem cair quase 50%, especialmente entre as pessoas com mais de 55 anos.

Embora as diretrizes baixadas em 1991 recomendem a cirurgia bariátrica para as pessoas mais gravemente afetadas pela obesidade, agora evidências indicam que especialmente os indivíduos jovens que ainda não são obesos mórbidos podem se beneficiar dessa cirurgia. Muitos adolescentes obesos continuam com sobrepeso quando adultos e com problemas de saúde piores do que pessoas que ficaram obesas quando adultas. A opção cirúrgica tem sido às vezes oferecida a adolescentes e jovens com doenças relacionadas à obesidade, como a diabete Tipo 2 e que não fazem dieta nem se exercitam.

Num estudo da Escola de Saúde Pública da universidade de Pittsburgh, que acompanhou 2.221 pacientes num prazo de três anos depois de uma cirurgia bariátrica, muitos deles reportaram menos dor e mais habilidade para caminhar. Mas como qualquer programa de perda de peso, tais benefícios e um controle do peso duradouro dependem de os pacientes seguirem uma dieta saudável e um plano de exercícios após a cirurgia.

A técnica original da operação bariátrica, chamada Bypass Gástrico em Y de Roux reduz o estômago ao tamanho de um ovo e redireciona uma grande parte do intestino delgado para limitar a absorção calórica. Um amigo hoje aposentado que se submeteu a essa cirurgia há 15 anos perdeu 72 quilos e engordou depois quatro quilos apesar de viajar muito fazendo férias, ocasião em que as pessoas com frequência ganham peso.

Nos últimos anos o procedimento envolve um tipo de operação menos invasiva, a chamada gastrectomia vertical, “sem manga”, que consiste na retirada de uma parte do estômago, com menos complicações e excelentes resultados de longo prazo.

Segundo a American Society for Metabolic and Bariatric Surgery somente 1,5% de pacientes que se submeteram à gastrectomia vertical tiveram de ser operados novamente por causa de complicações, frente a 7,7% que realizaram uma cirurgia bariátrica e 15,3% submetidos a um procedimento menos eficaz, de colocação de uma banda gástrica.

Numa gastrectomia vertical, 85% do estômago é removido, o que limita a quantidade de alimento que pode ser consumido. Além de restringir o quanto uma pessoa consegue comer, a cirurgia reduz a fome e o desejo de comer demais eliminando a grelina, hormônio que estimula o apetite.

Tanto a gastrectomia vertical como o bypass gástrico e outros procedimentos menos eficazes, são feitos com laparoscopia com os pacientes passando um dia ou dois no hospital.

Num importante estudo envolvendo 33.560 pacientes acompanhados por cinco ou mais anos, a gastrectomia vertical resultou em menos intervenções pós-operatórias do que no caso do bypass gástrico em Y de Roux. O estudo foi publicado em janeiro na revista JAMA.

Mesmo com esses tratamentos aparentemente drásticos, a perda de peso ocorreu aos poucos, com os pacientes começando a notar uma perda de peso depois de um mês. Muitas pessoas conseguem perder metade do peso em excesso dentro de um ano após a cirurgia e até 60% em 18 meses.

Mas a Dra. Ehlers alerta: “esta cirurgia não é uma pílula milagrosa. É uma ferramenta a ser usada em combinação com uma dieta adequada e atividade física. Antes da cirurgia os pacientes devem ser ensinados como comer e depois dela precisam aprender o quanto podem comer antes de se sentirem doentes. Muitas pessoas toleram qualquer tipo de alimento em pequenas porções, mas nunca conseguirão desfrutar de um jantar completo de Ação de Graças novamente”.

Os cirurgiões especialistas nesse tipo de operação recomendam a seus pacientes a abolirem bebidas açucaradas e refrigerantes e não beberem água quando ingerem alimento sólido. Embora seja possível comer demais e alargar o estômago de modo que ele volte ao seu tamanho original, isto pode ser evitado se o paciente aprender a parar de comer quando se sentir satisfeito.

E os pacientes terão de suplementar suas dietas com alguns nutrientes, como cálcio, ferro, vitamina B12 e vitamina D, para compensar a capacidade diminuída de absorção desses nutrientes após a cirurgia.

Como qualquer cirurgia, a bariátrica tem complicações potenciais, que tendem a diminuir quando realizadas por cirurgiões especialistas em clínicas médicas que realizam muitas dessas operações. As complicações e mortes por causa do procedimento caíram drasticamente desde o seu pico em 1998, de 11,7% e 1%, respectivamente, para 1,4% e 0,04% em 2016.

Cerca de 250.000 cirurgias bariátricas foram realizadas em 2018, mas aproximadamente 18 milhões de adultos com mais de 20 anos de idade tinham um índice de massa corporal maior do que 40, segundo dados da Sociedade Americana de Cirurgia Bariátrica. O custo médio da cirurgia vai de US$ 17.000 a US$ 30.000 e costuma ser coberto pelos planos de saúde. Mas, a obesidade não tratada custa à nação US$ 1,72 bilhão, ou 9,3% do Produto Interno Bruto (PIB) apenas em gastos com a assistência médica, de acordo com a entidade médica. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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